“Encontrar com alunos e eles chamarem a família e dizerem para eles: ‘Olha aí a melhor professora de matemática do mundo. Dona Cecília, tudo que eu sei, que eu aprendi de matemática, foi com a senhora’. Isso é a maior felicidade da minha vida.” Assim fala Cecília Irani Nunes, uma professora de matemática aposentada, que sempre mostrou paixão pelo ofício.a “Não querendo ser arrogante: nada do que eu fiz, eu fiz tão bem quanto dar aulas.”
Dona Cecília, 69, teve uma infância pobre, em Sorocaba, com os pais e os sete irmãos (seus pais tiveram 10 filhos, mas três morreram ainda crianças). Com 12 anos, ensinava os amigos e vizinhos. Ensinava de tudo, porém suas disciplinas preferidas eram a matemática e as línguas (inglês, português, francês e latim), porém “não negava aula nenhuma”: seu objetivo era ajudar os amigos a entenderem as matérias. Desde criança quis ser professora, e “eu tracei a vida, fui falando o que eu queria desde criança. Nunca mudei meu rumo. Eu fazia o meu destino”.
Frequentou o curso para professores, que era chamado de “normal”, equivalente ao magistério. Veio para São Paulo na época da faculdade: iniciou Ciências Econômicas no Mackenzie, por causa do namorado, mas desistiu e entrou em Matemática na UniSantana. Casou-se em 1967, com um marceneiro que dizia: “Te conheço dos carnavais passados” — o casal se conheceu num baile de carnaval. O casamento rendeu três filhos: Ariel, Maria Cecília “Ciça Vallerio” (ex-Estadão) e Rodrigo, que também é professor de matemática. “Ficamos juntos até ele partir”, 21 anos após o casamento.
Ira, como é chamada pelos irmãos, foi aprovada em todos os concursos que prestou: coordenação e direção, além dos para lecionar. Como professora, se preocupou com os detalhes do aprendizado: “Percebi que eu tinha de procurar as melhores estratégias para que o aluno pudesse aprender. Foi aí o maior prazer da minha vida”.
Começou como professora primária e detestou a experiência – ela supervaloriza quem tem o dom de trabalhar com crianças. Dava essas aulas para pagar a faculdade. Contudo, logo assumiu aulas do ensino fundamental em sua disciplina. Com dois cargos, sofreu com a burocracia do sistema público de educação e perdeu um cargo: “Parecia que eu ia morrer”. Foi em outra escola, pegou aulas e ficou com os dois salários. Depois de processo e liminar para trabalhar como diretora, conseguiu se aposentar duas vezes como especialista (isso não era permitido).
Aposentada, luta contra uma degeneração macular – danos na retina –, que dificulta a leitura. “Fica difícil para eu ler, mas não é impossível não”. Dona Cecília lê, aos fins de semana, cinco exemplares de jornais impressos inteiros. “Eu pego o jornal aqui, ó, leio as letras pequenas com a lupa. Não posso entregar os pontos, tenho que cuidar da minha saúde.” Porém as dificuldades não a impedem de lembrar com alegria dos velhos tempos de docente: “Como professora de matemática, foi o melhor trabalho que fiz, era minha paixão. Foi a época mais feliz da minha vida”.
Bela história, exemplo pra muita gente que se entrega antes mesmo de começar alguma coisa. Parabens pelo blog!
http://critico-estado.blogspot.com/
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Nossa. Muito bom o texto. Confesso que comecei a ler meio desmotivado mas me surpreendi com o restante da historia. Parabéns.
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bela história, persistencia é uma das palavras chave da vida
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Muito bom texto. Ver histórias assim são emocionantes. Quando eu era criança eu queria ser professor, mas depois mudei de ideia. Ter que aguentar aluno sem respeito e salário baixos não é pra qualquer um.
http://seriesbooksmovies.blogspot.com
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Verdade, a história realmente é muito linda =B
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Sou professor, mas não quero seguir esta carreira. Admiro muito a profissão, mas no Brasil ela é muito desmoralizada… rebaixada a um nível medíocre… é triste… pois para um país crescer, precisa ter uma boa base, e essa base se constrói com a educação.
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Fui sua aluna e digo dona Cecília é exatamente assim excelente professora Obrigada.
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O modo de ensinar dela era ótimo
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