Que milagre ver você por aqui. Tentamos fazer um texto do clichê amoroso, para o dia dos namorados – quem sabe conseguimos. “É sintomático. ‘Ai’ do verbo amar.” Entre e tome uma xícara de café conosco. Não, não será nenhum incômodo!
‒ Talvez tenha sido a chuva que me deixou assim ‒ disse ele. ‒ Caminhando até o horizonte que a quantidade de chuva me impedia de enxergar. Ou a miopia. Saí seguindo o destino dramático. Quem sabe, com preguiça pós-traumática de nada. Quem sabe, vontade do abraço. Abrindo um papelzinho guardado na carteira do bolso com “uma palavra”. Resta ficar aqui, um cego olhando o pôr-do-sol que está no seu olhar.
‒ Gosto de falar do meu amor ‒ respondeu ela ‒ e de ficar por horas, horas e horas olhando o seu mistério dentro dos seus olhos, abobalhada de alegria pela lucidez do amor, mudando um pouco a frase de Artur da Távola. Você falou em olhos. Os meus já começam a ficar do mesmo modo que estavam de manhã, quando vi sua foto em cima da minha escrivaninha: vão se fechando. Um momento para respirar, um tempo para olhar e uma dúvida de não saber quando acordar.
‒ Desabo com um olhar ‒ ele fez uma pausa dramática ‒, com o seu olhar, dos olhos castanhos médios, que ao sol ficam mais dourados, no frio se tornam mais escuros; ao me fitar diretamente ficam da cor do ouro. Porque o ouro vale mais.
‒ Aquele poema do Fernando Pessoa, que lemos na aula de história, diz assim: “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu” ‒ ela pensou alto. ‒ No contexto do tudo, na verdade, eu não sei se o mar é tão apropriado. Tem algo mais perigoso do que o mar, um abismo de onde eu caí, para dentro da eternidade de uma vida inteira: você.
‒ Temos que parar com esse monte de baboseiras que todo mundo diz.
‒ É verdade, mas eu gosto bastante.
‒ Eu sei que você gosta.
Ambos, pensando, como o professor Linguiça, digo, Girafales e dona Florinda, a velha Coroca, partiram. “Somos cafonas, sim, nós aceitamos, e que nos deixem em paz!” A trilha sonora seria a de alguma cena esquecida da personagem Scarlett O’Hara. E o vento levou…
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Muito bom. Excelente texto, parabéns.
Abs
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