Será que há uma estimativa de quantas pessoas deram a vida pela democracia desde que a república brasileira foi proclamada? Acredito que não haja um número exato, contudo, há uma constatação clara que resulta do domingo, 17 de abril de 2016: todas essas vidas perdidas para um ganho maior foram em vão.
Em vão, porque as gerações que se seguiram concretizaram o início de um processo de deposição de uma presidenta legitimamente eleita (não para a oposição, que acredita que Dilma Rousseff usou de bruxarias da Idade Média para alterar dados de urnas eletrônicas) que não cometeu crimes de responsabilidade.
A única irresponsabilidade de Dilma foi se unir ao partido mais traiçoeiro que existe. Por falta de aviso e conhecimento de causa, não foi. Ela achou que seria possível domesticar um animal selvagem e peçonhento. Como era previsto, não foi possível. Porque esse aliado não se interessa pelo bem do país, mas de si próprio.
A história não pode esquecer quem são os deputados golpistas antidemocráticos que iniciaram esse processo. A história não poderá amenizar a traição dos parlamentares à Constituição do Brasil. Os livros de história não poderão livrar da pecha de irresponsáveis aqueles que tentaram destruir não apenas um partido ou uma presidenta, mas um povo que passou a conquistar seus objetivos e a melhorar de vida.
É vergonhoso ver que tudo começou porque uma pessoa não aceitou perder a eleição. Não há crime, há orgulho. Orgulho de quem não aceita perder e acusa até a Justiça Eleitoral de errar na contagem de votos – e até manipulá-la. Em que lugar vamos parar quando este mundo parar de girar e só o que sobrar forem escombros de um sistema político?
O Brasil precisa que o povo vá para as ruas. Em defesa de seus próprios direitos: o de eleger, por maioria de votos, um representante para a Presidência da República, com a garantia de que ele cumprirá seu mandato até o fim, a menos que cometa algum crime – o que não aconteceu no caso de Dilma.
Quem sabe ler, pode pesquisar sobre o assunto e perceber que está sendo feito de otário pelos deputados federais golpistas, pela imprensa que fez favores à Ditadura Militar, por pastores que insistem em vender, em nome de Deus, toalhinhas que fazem as dívidas sumir depois de esfregá-las na porta do banco.
A população brasileira não é estúpida ao ponto de cair na conversa de bolsonaros ou aquele pastor que não merece ter o nome citado, de tão nojento. Mas é preciso mostrar ao povo que ele é capaz de ver e lutar por aquilo que acredita e precisa: um governo que olhe para ele como nenhum outro antes deste olhou.
E não vai olhar. Michel Temer não está interessando em melhorar o país, mas em assumir o poder unicamente por prazer. É a viúva-negra que mata o macho. Eduardo Cunha não é útil o suficiente no mundo para que eu tenha que gastar meu verbo falando sobre ele. Oportunista, chantageador e líder de uma conspiração que tende a devastar o Brasil.
Não podemos aceitar que o país seja dominado por deputados que parabenizam a neta pelo aniversário durante uma votação séria, em que se deve usar argumentos concretos e racionais. Até porque, mesmo tão pequena, a neta dele será eternizada pelos livros de história como descendente de um golpista. Ela vai querer isso?
O cidadão não pode admitir que um nazista vá ao plenário exaltar torturadores como Carlos Alberto Brilhante Ustra, que arde no colo do Diabo junto com religiosos que pregam o ódio. Não é possível que um país admita que um parlamentar comemora o fato de uma presidenta ter sido torturada ilegalmente por forças militares!
É isso o que realmente envergonha o país!
A briga pela democracia e contra um golpe ao Estado Democrático de Direito não terminou. Não podemos perder a esperança de que os senadores deixem de representar o voto na maioria dos brasileiros, que elegeu Dilma à cadeira que hoje ela ocupa, com equívocos ou não.
O Brasil não pode permitir que sua democracia seja exterminada novamente.
Nem que o motivo seja a reprovação política de um líder governamental.
Um governo passa.
Mas a democracia permanece.
E o golpe abre uma ferida que a história dificilmente deixa fechar.