Polícias resolveram apenas 5% dos homicídios dolosos, dos latrocínios, dos roubos e dos estupros nas duas últimas gestões tucanas
Geraldo Alckmin deixou o governo de São Paulo com 95% dos crimes graves sem esclarecimento, segundo a Polícia Civil. Entre esse grupo de delitos estão homicídios dolosos, latrocínios, estupros e roubos (a banco, de carga, de veículo e em geral).
Os dados foram obtidos em Reticência Jornalística via Lei de Acesso à Informação. O período analisado vai de janeiro de 2011 a março de 2018, quando Alckmin (PSDB) iniciou e encerrou sua gestão – em abril, ele passou o comando do estado para seu vice, Márcio França (PSB).
Os crimes graves somaram 2.742.764, o que representa 29% do total de ocorrências divulgadas no site da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Contudo, somente 136.511 casos foram solucionados pelas forças policiais – uma taxa de resolução de 5%.
O esclarecimento de um crime não significa que o culpado foi efetivamente punido. Isso porque, na fase policial, basta a identificação do suspeito (por exemplo) para que o inquérito seja encerrado e remetido ao Poder Judiciário. Este tomará as providências seguintes.
Crimes graves em São Paulo (jan/2011-mar/2018) | |||
Natureza criminal | Casos registrados | Casos esclarecidos | Índice de resolução |
Homicídio doloso | 29.104 | 12.001 | 41% |
Roubo a banco | 1.305 | 625 | 48% |
Roubo de carga | 62.078 | 2.483 | 4% |
Roubo de veículo | 602.306 | 16.680 | 3% |
Roubo em geral | 1.966.464 | 92.121 | 5% |
Latrocínio | 2.512 | 1.435 | 57% |
Estupro | 78.995 | 11.166 | 14% |
Total | 2.742.764 | 136.511 | 5% |
Índice de resolução por crime
A média de esclarecimentos mais alta é a de latrocínios (roubos seguidos de morte), com 57%. Dos 2.512 mil casos registrados (um por dia), apenas 1.435 foram solucionados pelas forças policiais, seja com a identificação dos suspeitos ou com a prisão de envolvidos.
Na contramão, as polícias paulistas só conseguiram resolver 3% dos roubos de veículos. Este crime vem diminuindo, mas ainda acontecem nove registros por hora no estado. A taxa manteve-se nesse patamar em seis dos últimos oito anos. Em 2013 e 2016, foi de 2%.
A índice de esclarecimento de homicídios dolosos no estado é de 41%, cerca de quatro a cada 10. De 29.104 delitos até março deste ano, houve cerca de 12.001 resoluções. O número não inclui as mortes intencionais causadas por acidente de trânsito.
Os secretários da Segurança da era Geraldo Alckmin (Fotos: SSP).
São Paulo tem quatro pessoas estupradas por dia, mas a taxa de resolução desse crime é de 14% entre 2011 e 2018. De 78.995 boletins de ocorrência, as polícias conseguiram concluir 11.166. E a proporção tem diminuído. Era de 16% em 2011 e chegou a 12% em 2017 e este ano.
Outros crimes contra o patrimônio que atingiram índices alarmantes já durante a primeira gestão de Alckmin também sofrem a falta de resolução: dos roubos em geral, 5% foram concluídos; dos roubos de carga, 4%; e dos roubos a banco, 48%.
Secretaria não comenta números
Procurada, a SSP afirmou que “desenvolve diversas ações de políticas públicas, como investimento em tecnologia e aperfeiçoamento do trabalho policial” e que “São Paulo conta com o maior efetivo policial da América Latina”. Não comentou, porém, os dados.
Desde 2011, período inicial do levantamento utilizado nesta reportagem, foram quatro os chefes da pasta: Antônio Ferreira Pinto (até 2012), Fernando Grella Vieira (2012-2014), Alexandre de Moraes (2015-2016) e o atual, Mágino Alves Barbosa Filho.
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